Vila Pavão: A capital da cultura popular capixaba
Da ancestralidade indígena à riqueza multicultural, município guarda histórias de resistência, tradição e emancipação
Texto: Jorge Kuster Jacob. (Sociólogo, historiador e professor)
Um pedaço de tábua fixado no lábio inferior. Essa era a marca registrada dos índios Botocudos, povos originários que habitavam as terras onde hoje se ergue Vila Pavão, no norte do Espírito Santo. Vivendo em relativa harmonia, esses indígenas foram expulsos na década de 1920 por caboclos mineiros que fugiam da seca, um dos primeiros capítulos da complexa formação histórica do município.
A construção da ponte sobre o Rio Doce, em Colatina (1928), e a abertura da estrada ligando Vila Pavão a Nova Venécia (1951), obra realizada em mutirão pela família Rebelin, aceleraram a colonização da região. Mas foi a chegada de imigrantes pomeranos e italianos, a partir dos anos 1940, que moldou sua identidade multicultural.
Tropeiros, o pavão e a encruzilhada histórica
Localizada em um entroncamento estratégico, Vila Pavão servia como ponto de descanso para tropeiros que percorriam o norte capixaba. Conta-se que uma das principais casas do vilarejo tinha um pavão pintado na varanda, motivo pelo qual os viajantes passaram a chamar o local de "Casa do Pavão", origem do nome atual.
Enquanto pomeranos e italianos ocupavam as terras férteis, famílias como a dos Benedito, descendentes de pessoas escravizadas, fincaram raízes na região do Córrego Santo Estêvão, enriquecendo a herança afro-brasileira. Hoje, o Movimento Cultural Pomitafro celebra essa fusão, resgatando tradições que vão da dança germânico aos tambores de matriz africana.
"A Pomerânia é aqui": Memória em terra capixaba
Os pomeranos que chegaram a Vila Pavão nas décadas de 1940 trouxeram consigo a herança cultural de uma pátria que deixara de existir. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, mais de 70% do território da Pomerânia foi anexado pela Polônia, restando à Alemanha apenas a região da Pomerânia Ocidental. Hoje, porém, é em terras brasileiras que a verdadeira tradição pomerana se mantém viva, motivo de orgulho para seus descendentes, que dedicam-se ao resgate de suas raízes por meio da valorização das tradições culturais e da preservação da língua pomerana.
Pedras, Café e Granito: A economia que sustenta a cultura
Com pouco mais de 9 mil habitantes, 78% na zona rural, Vila Pavão tem na agricultura familiar seu sustento, destacando-se como produtora de café e de granito, este último responsável por colocar o município no mapa nacional do setor. As imponentes formações rochosas, conhecidas como "pedras", completam a paisagem que muitos consideram uma das mais belas do Brasil.
30 Anos de emancipação e uma vida cultural intensa
Criado em 1990 após plebiscito (data celebrada como "Dia da Cidade"), o município já teve nove prefeitos, desde Erno Dieter (1993-1996) até o atual, João Trancoso (2025-2028). Mas sua maior conquista é a emancipação cultural: "Somos pequenos em tamanho, mas gigantes em diversidade", definem os moradores.
Vila Pavão pode não figurar entre os grandes centros econômicos do ES, mas, com suas festas tradicionais, gastronomia plural e orgulho de suas raízes, reivindica com mérito o título de "Capital da Cultura Popular"
Mandatos administrativos:
·1° mandato, entre 1993 a 1996: Erno Júlio Dieter
·2º mandato, entre 1997 a 2000: Eraldino Jann Tesch
·3º mandato, entre 2001 a 2004: Eraldino Jann Tesch
·4° mandato, entre 2005 a 2008: Ivan Lauer
·5° mandato, entre 2008 a 2012: Ivan Lauer
·6º mandato, entre 2013 a 2016: Eraldino Jann Tesch
·7º mandato, entre 2017 e 2020: Irineu Wutke
· 8º mandatos, entre 202O e 2024: Uelikson Bonne (Bolinha)
· 9º mandatos, entre 2025 e 2028: João Trancoso.