Evento marca trajetória de luta e preservação cultural dos pomeranos no Espírito Santo, considerados os mais tradicionais do mundo
Hoje, dia 28 de junho de 2025, celebram-se os 166 anos da chegada dos primeiros imigrantes pomeranos ao Espírito Santo — data que marca oficialmente o Dia Estadual do Imigrante Pomerano
As primeiras famílias de imigrantes pomeranos pisavam o solo pavoense, há 85 anos, marcando o início de uma história de resistência e tradição que permanece viva até hoje, um marco que relembra a saga de um povo que superou adversidades para construir uma nova vida no Brasil. Os pomeranos capixabas são reconhecidos como os mais tradicionais do mundo, segundo pesquisadores, como o alemão Klaus Granzow (1927-1986), que visitou o Brasil na década de 1970 e documentou sua cultura em livros e filmes.
As primeiras famílias pomeranas desembarcaram no Espírito Santo em 28 de junho de 1859, após uma viagem de quase dois meses pelo Oceano Atlântico. Eram 27 famílias, totalizando 117 pessoas, que deixaram para trás a Pomerânia (região hoje dividida entre Alemanha e Polônia) em busca de terras férteis, fugindo da pobreza e da opressão do capitalismo europeu.
No entanto, a realidade no Brasil foi dura. As terras recebidas eram acidentadas, o clima tropical era hostil para quem vinha de um ambiente frio, e a falta de conhecimento sobre o cultivo local trouxe fome e dificuldades. Muitos pensaram em voltar, mas a impossibilidade financeira os manteve no país.
Nos anos 1940, a imigração pomerana para Vila Pavão se intensificou devido à perseguição do governo Vargas durante a Segunda Guerra Mundial, que associou os pomeranos ao nazismo. O filme "Bate Paus" retrata os relatos dramáticos de torturas sofridas, levando muitos a fugirem para o interior do estado.
Apesar das adversidades, o isolamento geográfico ajudou a preservar sua cultura. Como afirma o pesquisador Dr. Ismael Tressman, "A Pomerânia é aqui" destacando que a falta de interferência estatal permitiu que mantivessem suas tradições quase intactas por mais de um século.
Hoje, os pomeranos são fundamentais para a economia capixaba, destacando-se na agricultura familiar, cafeicultura e pecuária. Sua organização social, fortemente influenciada pela religião luterana, também foi crucial para sua sobrevivência.
Em Vila Pavão, a história é preservada no Museu Pomerano Franz Ramlow, antiga casa onde Klaus Granzow se hospedou em 1972. Seu livro, "Pomeranos sob o Cruzeiro do Sul", recentemente traduzido pelo Arquivo Público Estadual, é um dos registros mais importantes dessa trajetória.
A celebração dos 85 anos não só homenageia o passado, mas também reforça a identidade de um povo que, mesmo longe de sua terra natal, construiu uma nova Pomerânia no Espírito Santo.
Texto: Jorge Kuster Jacob.